Os médicos continuam a repetir o mesmo conselho: mova-se um pouco mais, coma de forma mais inteligente, controle o sal. No entanto, ainda há um simples ajuste que encaixa facilmente na cozinha do dia a dia e que continua a passar despercebido.
Uma nova perspetiva dos Estados Unidos
Nas Sessões Científicas de Hipertensão de 2025 da American Heart Association, investigadores relataram uma diferença marcante entre a evidência e a prática. Menos de um em cada dezasseis adultos norte-americanos com tensão alta afirma utilizar substitutos do sal em casa. A equipa analisou dados de 37 080 adultos com 18 anos ou mais, agrupando-os por estado e tratamento da hipertensão. Os participantes indicaram se usavam sal comum, um substituto do sal ou se evitavam adicionar sal por completo.
Menos de 6% dos adultos com hipertensão relataram usar um substituto do sal, apesar do baixo custo e dos benefícios comprovados para a tensão arterial.
Os substitutos do sal normalmente substituem parte ou todo o cloreto de sódio por cloreto de potássio. Esta alteração faz diferença. O sódio promove a retenção de água, aumenta o volume sanguíneo e eleva a pressão arterial. O potássio atua de modo inverso, ajudando os rins a eliminar o sódio e relaxando as paredes dos vasos sanguíneos.
Porque é que os substitutos do sal fazem diferença
A maior parte do sódio que ingerimos não vem do saleiro. Vem de alimentos embalados, take-away, pães, molhos e sopas. Por isso, cortar no sódio exige uma abordagem dupla: escolher produtos com menos sal e, ao cozinhar ou terminar um prato, optar por uma alternativa ao sal de mesa convencional.
A American Heart Association aconselha os adultos a manterem o sódio abaixo das 2 300 mg por dia, com um objetivo próximo das 1 500 mg para pessoas com hipertensão. Reduzir cerca de 1 000 mg por dia pode ajudar a baixar os valores. No Reino Unido, a recomendação costuma fixar-se num máximo de 6 g de sal por dia, o que equivale a cerca de 2,4 g de sódio.
| Recomendação | Limite |
| Limite geral de sódio para adultos (AHA) | ≤ 2 300 mg sódio/dia |
| Objetivo para hipertensão (AHA) | ≈ 1 500 mg sódio/dia |
| Limite de sal para adultos no Reino Unido | ≤ 6 g sal/dia (≈ 2 400 mg sódio) |
O que é um substituto do sal
A maioria das misturas troca cloreto de sódio por cloreto de potássio. Algumas marcas misturam ambos para suavizar diferenças de sabor, por vezes acrescentando ervas aromáticas ou ácidos como ácido cítrico para realçar o gosto. Muitas pessoas começam com uma mistura 50:50 de sal comum e substituto, ajustando o equilíbrio à medida que o paladar se adapta.
Conte com um sabor ligeiramente diferente no início. O cloreto de potássio pode parecer menos “intenso” ou até um pouco metálico para alguns. O método de confeção ajuda. Use substitutos em molhos, ensopados e pães onde os sabores se fundem. Seja moderado na utilização para polvilhar, onde o sabor pode ser mais imediato.
Quem deve ter cuidado
- Pessoas com doença renal crónica ou diabetes mal controlada.
- Quem toma medicamentos que aumentam o potássio, como IECA, ARA ou diuréticos poupadores de potássio (por exemplo, espironolactona ou eplerenona).
- Pessoas com problemas nas glândulas supra-renais que afetam o equilíbrio do potássio.
- Idosos com múltiplos medicamentos prescritos ou função renal diminuída.
Se tem problemas renais ou toma medicamentos para o coração ou a tensão, fale com o seu médico de família ou com o farmacêutico antes de mudar para um substituto à base de potássio.
A diferença de adoção: sabor, hábitos e rótulos
Então, por que motivo são os substitutos do sal tão pouco utilizados, mesmo sendo acessíveis e benéficos? O estudo não avaliou as motivações, mas destacam-se alguns obstáculos práticos.
- Expectativas de sabor: uma vida inteira de consumo de sódio molda o paladar, e a primeira semana pode parecer estranha.
- Confusão nos rótulos: muitas embalagens indicam sódio por 100 g, enquanto receitas e conselhos falam em “sal”, não em sódio.
- Casa versus alimentos embalados: trocar o sal à mesa não resolve refeições pré-feitas ou take-away ricas em sódio.
- Mensagens mistas: alguns ouvem “potássio” e preocupam-se, sem contexto sobre quem realmente precisa de cautela.
- Disponibilidade: supermercados mais pequenos têm menos opções, e nem sempre é fácil saber onde encontrá-las.
Estes obstáculos têm solução. Rótulos mais claros à frente das embalagens, conselhos simples nas consultas e disponibilidade consistente nas prateleiras dos supermercados ajudariam. Também seriam úteis lembretes rápidos nas consultas de medicina familiar, especialmente para quem tem dificuldade em atingir os objetivos apesar da medicação.
Formas práticas de reduzir o sódio já hoje
Pode começar a fazer a diferença esta semana, com algumas pequenas trocas e hábitos.
- Experimente um saleiro 50:50: metade sal comum, metade substituto à base de potássio.
- Use umami em vez de sal: polpa de tomate, cogumelos, cebola, alho, vinagre, sumo de limão e ervas dão sabor.
- Passe feijão e legumes enlatados por água; escolha versões “sem adição de sal” sempre que possível.
- Prefira caldos, molhos de soja e cremes barrar com menos sal; compare os rótulos lado a lado.
- Escolha peixe e carne frescos ou congelados em vez de versões curadas ou processadas.
- Limite snacks salgados a dias e quantidades definidos; troque por frutos secos torrados em casa, sem sal adicionado.
- Confecione sopas e molhos em quantidade; controla o tempero desde o início.
Nada disto substitui a medicação, quando necessária. É um apoio. Para muitos, uma redução gradual do sódio, juntamente com um ligeiro aumento do potássio diário proveniente dos alimentos—bananas, batatas, feijão, vegetais de folha verde—ajuda os comprimidos a manter os valores controlados.
O que muda este estudo na prática
A nova análise aponta para uma opção acessível que está a ser desperdiçada por milhões. Os profissionais de saúde podem incluir uma simples pergunta na consulta: “Utiliza um substituto do sal?” Se a resposta for não, bastam dois minutos para partilhar sugestões de sabor, precauções para os rins e dicas de compra. Cozinhas públicas—escolas, hospitais, lares—podiam experimentar misturas em molhos e pães onde as diferenças de sabor são mínimas.
A política pode incentivar mudanças no abastecimento. Critérios de compras que permitam sais enriquecidos com potássio em cozinhas industriais, e rótulos mais claros com quantidade de sódio por dose em embalados, dariam normalidade, e não exceção, às escolhas com menos sódio.
Como ler rótulos sem dores de cabeça
- Sal versus sódio: sal é cloreto de sódio. Para converter sódio em sal, multiplique o valor do sódio por 2,5.
- Conta rápida: 0,8 g de sódio por dose ≈ 2 g de sal. Um produto com 0,3 g de sódio tem cerca de 0,75 g de sal.
- Sinais de alerta: alegações como “forno”, “saudável” ou “rico em proteína” não garantem baixo teor de sódio; verifique sempre a letra pequena.
Contexto extra que ajuda na decisão
O que conta como substituto do sal? Cloreto de potássio puro é o mais habitual. Algumas misturas incluem sais de magnésio ou aromas para arredondar o sabor. Certos produtos reduzem o sódio sem acrescentar potássio, mas recorrem a ácidos e ervas; isso pode ser útil quando o potássio não é adequado.
Quer experimentar de forma simples? Durante uma semana, mantenha as refeições habituais mas troque o sal adicionado na confeção por uma mistura à base de potássio. Pese ou meça o sal para ser preciso. Registe todos os dias, de manhã, dois valores de tensão arterial sentado, com um minuto de intervalo, em pelo menos quatro dias. Se sentir melhoria nos valores e estiver bem, pode prolongar a experiência enquanto ajusta as escolhas de produtos embalados. Se notar tonturas ou sintomas invulgares, fale com o seu médico e reveja o plano.
Pessoas com doença renal avançada ou a tomar medicamentos que aumentam o potássio também podem reduzir o sódio de forma segura. Foque-se na leitura dos rótulos, cozinhe mais vezes de raiz e tempere com ácidos, ervas e especiarias em vez de sal. A sua equipe de saúde pode ajustar as metas e monitorizar eletrólitos para garantir segurança nas mudanças.
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